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O pensamento conservador brasileiro, que não é liberal, mas neo (pós) colonial, produziu em 1989 Collor para opor-se ao governo progressista de Lula.

Em 2018, 29 anos depois, produz Bolsonaro com o mesmo propósito. O curioso, é que nesse momento vejo o movimento progressista menos articulado e sem uma bandeira para galvanizar a população.

Em 1989 tínhamos a redemocratização e a inclusão social como liga para uma agenda comum.
Agora, não se conseguiu ainda sair do redemoinho “é golpe! – fora Temer – não tem provas”!

Embora sejam verdades incontestáveis, não mobilizaram nem mobilizarão a população, no meu entendimento.

Reflito que uma agenda comum da centro-esquerda possa gerar esse liga galvanizante. Passaram-se quase 30 anos e a expectativa da população mudou.

O Brasil está mais urbanizado, escolarizado e com um modelo de consumo globalizado. Somos hoje uma nação menos católica, mas ainda conservadora, atenta às novas regras de produção e emprego e informados da necessidade de proteger a cultura e o meio ambiente.

A agenda da inclusão social permanece, mas em outro patamar, a eficácia do estado, portanto do orçamento público passa a ser uma bandeira mais perceptível. O cidadão precisa do estado (em todas as esferas), mas não pode ser um faz de conta.

O pensamento progressista tem bandeiras extraordinárias, mas ainda não tem um modelo de gestão eficaz. O debate não é se tem mais ou menos estado, mas aquilo que chega efetivamente ao cidadão.

O Bolsa Família e o Minha Casa – Minha Vida são dois exemplos dessa combinação. São políticas necessárias, implantadas com êxito, mas que não tiveram evolução.

A bandeira correta seria “o Brasil com os Brasileiros” – uma política nacionalista para inclusão global: as metas do desenvolvimento econômico-social têm de ser claras e o modelo de como fazê-la também (planejamento!).

Nesta etapa deveria-se trabalhar o lema: todo direito gera responsabilidades. Nesse sentido, precisamos educar politicamente os cidadãos para sua corresponsabilidade na execução das políticas públicas. Toda ação de governo deve exigir uma contrapartida da sociedade, para além dos impostos.

A eficácia deve ser o elemento de avaliação. Não adianta ter a bandeira correta se, ao aplicá-la não se colhe os resultados.

A transparência na gestão da coisa pública precisa ser atualizada, a lei das licitações, o estatuto do funcionário público e a eficácia da gestão pública modernizados urgentemente.

O empresário e a propriedade privada não constituem problema algum. O inimigo é o patrimonialismo, a visão deturpada (de Brasil para poucos) e o desperdício de recursos públicos (incluindo aí a corrupção).

Não vou me ater a reforma política e fiscal pois já temos relativo consenso da sua necessidade, embora com interpretações distintas.

A síndrome da segurança pública é o sintoma principal da crise de eficácia do estado.

A agenda para um novo governo será convocar uma nova constituição, mobilizar a sociedade através das novas ferramentas de comunicação e conciliar o novo com o velho. Não precisamos de uma revolução. Precisamos de maturidade! Claro uma dose de utopia também.