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Mães de maio são mulheres

Que lutam pela Justiça

Metendo suas colheres

Nos malfeitos da polícia

Exibindo para o mundo

O resultado imundo

Deste Estado-milícia

São guerreiras incansáveis

Que abrem seus corações

Tristes e inconsoláveis

Contra novos esquadrões

Que em plena democracia

Causam morte e agonia

De imensas proporções

São senhoras combativas

Diversas e populares

Que exercem voz ativa

E ocupam seus lugares

Na luta cotidiana

Contra a polícia tirana

Que executa milhares

São o rosto da coragem

Deste Brasil desigual

Traduzem bem a imagem

Desta guerra desleal:

Cidadão versus Estado

De terror banalizado

E impunidade total

São elas progenitoras

Das vítimas do poder

Da polícia opressora

E da justiça que não vê

Jovens da periferia

Na mira da covardia

Marcados para morrer

São a vanguarda da luta

Contra o Estado assassino

Que tantas vidas encurta

Com seu sistema cretino

Onde jovens inocentes

Tidos como delinquentes

Tem a morte por destino

São grandes protagonistas

Do combate ao genocídio

Que salta à nossa vista

Travestido de homicídio

Em autos de resistência

Cheios de incoerência

E sem qualquer subsídio

São elas quem, no Brasil,

No ano dois mil e seis

Nesta “pátria mãe gentil”

Quando maio era o mês

Tiveram a vida mudada

Pela mais triste jogada

Que as fez “bola da vez”

Quando brigas intestinas

Entre gangues estatais

Ilegais ou genuínas

Porém entre maiorais

Expôs a ferida aberta

São Paulo ficou alerta

E o povo sofreu demais

Quando a polícia saiu

Pelas ruas da cidade

E o horror emergiu

Entre discurso e maldade

Pacatas donas- de-casa

Tiveram que criar asa

Contra a impunidade

Pois em torno de dez dias

Mais de 500 morreram

Em verdadeiras sangrias

Muitos jovens pereceram

Negros eram maioria

Dos pobres que ali havia

Quantos desapareceram?

Assim como noutros tempos

Da historia brasileira

A polícia deu exemplos

De sua face carniceira

Fingindo combate ao crime

Jogou pelo mesmo time

Das práticas justiceiras

Ceifou vidas joviais

Violou direitos humanos

Causou dores maternais

Trouxe choro e desengano

Gerou feridas  eternas

Donde brota  força interna

Para lutar ano a ano

Mulheres que geram vidas

Que dão amor e cuidado

Levantam-se doloridas

Para exigir do Estado

Apuração eficaz

Justiça, verdade e paz

Nenhum processo arquivado!

Déboras e Ednalvas

Veras, Angelas, Marias

Flávias, Ritas e Rosalvas

Francilenes e Sofias

Mães de Maio, lutadoras

Todas são merecedoras

Desta singela elegia.